Câmara de Comercialização de Energia trabalha com a possibilidade de usinas atingirem níveis críticos de falta de água nos reservatórios.
A situação do setor elétrico brasileira é grave e evolui para um quadro dramático em razão da escassez de chuva nas principais bacias hidrográficas do país e onde estão a maioria das usinas hidrelétricas responsáveis pela geração de energia para o sistema interligado nacional. Hoje, a Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) divulgou projeção em que as hidrelétricas do Sudeste, que respondem por grande parte da geração nacional, devem chegar a novembro com média de 9,9% da capacidade. A operação abaixo de 10% traz risco de danos às máquinas das usinas, informou a Mover TC. Em janeiro, a previsão para novembro era 43,5%.
A projeção sugere um cenário dramático para o setor elétrico nos próximos meses no Brasil. O mercado trabalha cada vez mais com a perspectiva de racionamento de luz no país. A corretora XP, por exemplo, destacou em relatório que a probabilidade de racionamento nos próximos doze meses aumentou significativamente, passando de 5,5% (no último relatório) para 17,2%.
“O cenário hidrológico ficou abaixo de nossas estimativas em agosto, a ENA [quantidade de água que chega às hidrelétricas, em unidade de energia] ficou 27% abaixo de nossos números, e a geração hídrica e térmica 8% abaixo de nossa projeção. O que resultou em um nível de reservatório consolidado de 2,2 pontos percentuais”, disseram os analistas da XP.
Também o banco Itaú revisou suas projeções para o setor elétrico com tendência de piora dos cenários. “O principal risco para o cenário energético no próximo ano é uma nova temporada de chuva (novembro a março) com precipitação abaixo da média histórica. Dado o nível inicial pior para os reservatórios e a perspectiva ainda desafiadora para o início do período úmido, aumentamos a probabilidade de uma política de redução forçada de demanda”, publicou o Itaú.
Em pronunciamento transmitido em cadeia de rádio e televisão na última semana, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, reforçou a gravidade da crise energética que o Brasil vive em função da escassez de água nos reservatórios. O ministro pediu para que os brasileiros reduzissem o uso de três itens: ar condicionado, ferro elétrico e chuveiro.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) está orientando a necessidade de uso dos estoques hídricos armazenados diante do agravamento da crise energética no Brasil. O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou diretrizes que permitem ao setor industrial participar de um esforço de economia de energia com a oferta de redução voluntária da demanda de energia elétrica.
Foi apresentada proposta pelo Operador Nacional do Sistema para flexibilizações temporárias da regra de operação do Rio São Francisco, considerando a importância de se dispor de recursos energéticos adicionais a fim de assegurar as condições de atendimento e minimizando a degradação do armazenamento nos reservatórios das usinas hidrelétricas das regiões Sudeste e Sul do país. Foram ainda discutidas flexibilizações operacionais hoje existentes para níveis mínimos de armazenamento de usinas hidrelétricas e o CMSE indicou a necessidade de uso dos estoques hídricos armazenados.
O governo federal publicou decreto em agosto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro determinando a redução do consumo de energia elétrica, entre 10% e 20%, nos meses de setembro de 2021 a abril de 2022, nas sedes dos ministérios, autarquias e fundações federais. O decreto estabelece várias recomendações com a finalidade de reduzir o consumo de energia elétrica. Entre as medidas estão a determinação de que aparelhos de ar-condicionado funcionem com temperatura a partir de 24ºC.