Emirados Árabes Unidos, rico em petróleo, vai queimar lixo para gerar energia
MUNDO
Publicado em 04/11/2021

Sharjah, Emirados Árabes Unidos, 4 Nov 2021 (AFP) - Diante do acúmulo de lixo no deserto, o governo dos Emirados Árabes Unidos (EAU) encontrou uma forma de se livrar do lixo, com o uso de incineradores que transformará os dejetos em energia elétrica.

EAU, um dos grandes exportadores mundiais de petróleo, está construindo uma das maiores usinas do Golfo para converter resíduos em energia e aliviar seu problema crônico com o lixo e, ao mesmo tempo, sua dependência de usinas de energia que baseadas no gás.

Grupos ambientalistas não estão convencidos e afirmam que seria melhor reciclar, fertilizar e mudar hábitos de consumo que geram desperdício. Também alertam para o risco de contaminação pelos incineradores a gás, que emitem CO2.

Mas a engenheira Nouf Wazir, da empresa de tratamento de resíduos Bee'ah, argumenta que o sistema usará lixo não reciclável.

"Nem todos sabem que o lixo tem valor", disse Wazir, à frente do projeto. A usina de Sharjah começará a funcionar ainda este ano e vai queimar mais de 300.000 toneladas de resíduos a cada 12 meses para fornecer energia a 28.000 casas.

O emirado vizinho de Dubai está construindo outra usina, com o custo de 1,2 bilhão de dólares, segundo Hitachi Zosen Inova, uma empresa associada ao projeto.

Quando estiver concluída em 2024, a unidade de Dubai será uma das maiores do mundo, capaz de receber até 1,9 milhão de toneladas de resíduos por ano, ou 45% do lixo caseiro do emirado.

Ao passar de uma região desértica para um próspero centro empresarial, EAU multiplicou sua produção de lixo.

O consumo de energia também cresceu, 750% desde 1990, segundo a Agência Internacional de Energia.

Com uma população de 10 milhões de habitantes, cinco vezes mais que há 30 anos, EAU utiliza mais energia elétrica e produz mais resíduos per capita que quase todos os demais países.

As autoridades calculam a produção de 1,8 quilo diário de lixo por pessoa.

O país tem vários aterros sanitários. Em Dubai há seis, que ocupam uma área de 1,6 milhão de metros quadrados, segundo a prefeitura.

Na ausência de outras soluções, a cidade calcula que os aterros ocuparão 5,8 milhões de metros quadrados no emirado até 2041, o equivalente a 800 campos de futebol.

As taxas de aterro são "quase inexistentes, por isso é barato e fácil despejar todos os materiais no deserto", disse Emma Barber, diretora da DGrade, de Dubai, que desenvolve roupas e acessórios a partir de garrafas de plástico recicladas.

O país tenta diversificar sua matriz energética, que depende em mais de 90% das usinas de gás.

No ano passado, EAU inaugurou a primeira central nuclear do mundo árabe e dispõe de abundantes recursos de energia solar.

O país deseja alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

- Separar, organizar, reciclar -Os defensores da estratégia afirmam que os incineradores têm riscos mínimos de poluição, mas os ativistas respondem que existem abordagens mais positivas para o meio ambiente.

Janek Vahk, da Zero Waste Europe, afirma que incinerar lixo é "mais fácil" que instalar aterros sanitários, que ocupam muito espaço, mas está longe de ser ecológico.

"O mais benéfico para o clima e o meio ambiente seria a recuperação e a compostagem", disse Vahk à AFP.

"Mas isto não acontece porque é mais fácil simplesmente queimar que separar, organizar e reciclar", completou.

A ONG com sede em Bruxelas pediu uma moratória sobre os novos incineradores de lixo e o fim da utilização dos antigos até 2040, alertando que a energia elétrica que produzem faz uso intensivo de gases do efeito estufa, inclusive em comparação com os combustíveis fósseis.

Vahk argumenta que a incineração é "mais eficiente" em países nórdicos, que são frios, quando também é possível aproveitar o calor gerado, mas não em desertos quentes.

Rami Shaar, cofundador da Washmen, empresa que coleta roupas e faz reciclagem para os clientes ao mesmo tempo, disse que transformar lixo em eletricidade "não é necessariamente energia verde".

"É como uma solução para não extrair mais petróleo, mas não resolve todo o problema", afirmou.

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