Número de mortes em acidentes aéreos cai mais de 50% em uma década no país
MUNDO
Publicado em 12/11/2021

A morte de Marília Mendonça e mais quatro pessoas em acidente aéreo em Minas Gerais, na sexta-feira passada, fez o Brasil reviver tragédias com a queda de aviões. Mas o número anual de mortes em acidentes aéreos caiu mais de 50% desde 2011, segundo dados do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

É função do Cenipa, após qualquer acidente aéreo, analisar o caso, identificar fatores contribuintes para a fatalidade e relatar recomendações de segurança. Assim, empresas e aeronautas melhoram condutas e operações, intensificando a segurança ao voar. 

Em 2020, o número de mortes por acidentes aéreos foi o menor da série já registrado: 50 ao todo. Com as cinco mortes causadas pela queda do avião com Marília, os óbitos neste ano chegaram aos mesmos 50 casos. 

O número de 2020 e deste ano é menos da metade do registrado em 2011, por exemplo, quando o país teve 110 óbitos em acidentes aéreos. 

Os acidentes aéreos com mortes ocorrem, em regra, na aviação de pequeno porte —que inclui aeronaves particulares, táxi aéreo ou instrução, por exemplo.

Na aviação comercial, acidentes graves são cada vez mais raros: desde 2011 —quando um avião da companhia regional Noar caiu no Recife— não há registro de morte nessa categoria.

Segundo o chefe do Cenipa, brigadeiro do ar Marcelo Moreno, o Brasil faz parte de uma rede de 193 países signatários da convenção de aviação civil internacional. "No Brasil é o Cenipa que é responsável central e normativo para prevenção aeronáutica", diz.

Ele explica que, diferentemente da investigação policial, o Cenipa não busca culpados ou responsáveis por um acidente. Tenta, sim, avaliar o que contribuiu para que ele ocorresse. "A nossa investigação busca apenas a prevenção de futuros acidentes. Nós conseguimos mensurar um impacto muito positivo para a sociedade desse trabalho", diz. 

Uma investigação aérea é dividida em três tipos de análise: 

*Fator humano

*Fator operacional

*Fator material 

A investigação de qualquer acidente, como o da cantora Marília Mendonça, é dividido em três fases:

1. Coleta de dados 

2. Análise de dados 

3. Emissão de relatórios 

Segundo o superintendente de Padrões Operacionais da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), João Garcia, vários pontos podem ser atribuídos a essa melhoria nos índices de segurança. 

"Da mesma forma que um acidente não tem um único fator contribuinte, a melhoria também não tem um ponto específico: ela vem de uma série de ações e iniciativas interconectadas e que passam por todos os atores desse sistema", diz. 

Para ele, a regulação do setor evoluiu muito nos últimos dez anos. "Houve uma série de inovações, focadas sempre no desempenho e nos resultados", completa.

Outro ponto que ele cita como importante nessa queda de acidentes fatais é como a tecnologia avançou nos últimos anos —e como isso melhorou na minimização de riscos a quem opera no sistema.

"Há melhorias implementadas em termos de estrutura aeroportuária, meteorológica e de tráfego aéreo que contribuem. E tem uma contribuição da tecnologia embarcada também: hoje, o grau de informação que os tripulantes têm em uma aeronave eleva bastante a tomada de decisões e operações. A tecnologia ajuda a resolver problemas específicos de segurança." 

Mais treinos, mais cuidados 

Para o especialista e professor de aviação Alexandre Faro Kaperaviczus, a redução de acidente tem a ver com a melhora nas operações. Ele atribui à queda no número de ocorrências por haver "cada vez mais uma conscientização". 

"O Cenipa tem feito um trabalho muito forte de prevenção. Essa atividade de investigação se reveste de uma importância muito grande. É por intermédio delas que saem as recomendações de segurança para prevenção de acidentes futuros", afirma o coordenador dos cursos de graduação em aviação civil e da pós-graduação em segurança de voo da Universidade Anhembi Morumbi.

Na aviação comercial, ele explica que as empresas aéreas brasileiras trabalham com um nível de segurança "altíssimo". "Todas são muito rigorosas, desde a inspeção de saúde de seus tripulantes ao treinamento dos pilotos", diz. 

Quando você entra em uma rotina, você se acostuma com pousos e decolagens. No treinamento, o piloto passa por situações de pane. Os simuladores têm as pistas e os aeroportos: ele 'decola' de Congonhas e logo depois apaga um motor, ou os dois. Assim treina situações de emergência que podem ocorrer. "Alexandre Faro Kaperaviczus, professor da Universidade Anhembi Morumbi.''

Para ele, os acidentes ocorridos aqui deixaram lições para o treinamento dos pilotos em situação de emergência. "Isso tem melhorado nossos índices de segurança. Quando você investe nessa área, consegue minimizar riscos, e isso faz toda diferença", diz.

O especialista explica ainda que a falha de motor em voo é a principal causa de acidentes porque ela pode ocorrer a qualquer momento, com qualquer aeronave (sem que isso resulte em um queda brusca).

"Por mais perfeita que a manutenção seja de qualquer avião, ele está sujeito a ter uma pane. Por isso, em aviação, temos a redundância: quanto mais sofisticado e quanto mais passageiros você transporte, maiores os níveis de segurança do avião", diz.

Por fim, o especialista afirma que o Brasil hoje é uma das referências em segurança nas operações aéreas. "Na vida sempre tem coisas para melhorar, nunca vamos estar perfeitos. Mas, em termos mundiais, diria que estamos muito bem em segurança, com um controle aéreo de primeiro mundo", finaliza. 

 

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