Enquanto os líderes mundiais se reuniam na cúpula da COP26, em Glasglow, na Escócia, para debater como enfrentar a mudança climática, afirmações enganosas e falsidades sobre o clima aumentaram nas mídias sociais.
A BBC analisou algumas das alegações que mais viralizaram no ano passado e o que elas podem nos dizer agora sobre a negação das mudanças climáticas.
Afirmação 1: O sol vai esfriar, interrompendo o aquecimento global
Há muito as pessoas afirmam, incorretamente, que as mudanças de temperatura do século passado são apenas parte do ciclo natural da Terra, e não o resultado do comportamento humano.
Nos últimos meses, vimos uma nova versão desse argumento.
Milhares de postagens nas redes sociais, atingindo centenas de milhares de pessoas no ano passado, afirmam que um "Grande Mínimo Solar" levará a uma queda natural nas temperaturas, sem intervenção humana.
Mas não é isso que as evidências mostram.
Um grande mínimo solar é um fenômeno real quando o Sol emite menos energia como parte de seu ciclo natural.
Estudos sugerem que o Sol pode muito bem passar por uma fase mais fraca em algum momento deste século, mas isso levaria, no máximo, a um resfriamento temporário de 0,1 — 0,2°C do nosso planeta.
Isso não chega nem perto de compensar a atividade humana, que já aqueceu o planeta em cerca de 1,2 °C nos últimos 200 anos e continuará a aumentar, possivelmente chegando a 2,4 °C no final do século.
Sabemos que os recentes aumentos de temperatura não foram causados pelas mudanças no ciclo natural do Sol porque a camada da atmosfera mais próxima da Terra está se aquecendo, enquanto a camada mais próxima do Sol — a estratosfera — está esfriando.
O calor que normalmente seria liberado na estratosfera está sendo aprisionado pelos gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono liberado pela queima de combustível.
Se as mudanças de temperatura na Terra fossem causadas pelo Sol, esperaríamos que toda a atmosfera esquentasse (ou esfriasse) ao mesmo tempo.
Afirmação 2: o aquecimento global é bom
Vários posts que circulam nas redes sociais afirmam que o aquecimento global tornará partes da Terra mais habitáveis e que o frio mata mais pessoas do que o calor.
Esses argumentos frequentemente selecionam fatos favoráveis, ignorando qualquer um que os contradiga.
Por exemplo, é verdade que algumas partes inóspitas e frias do mundo podem se tornar mais fáceis de se viver por algum tempo.
Mas, nesses mesmos lugares, o aquecimento também pode levar a chuvas extremas, afetando as condições de vida e a capacidade de cultivo.
Ao mesmo tempo, outras partes do mundo se tornariam inabitáveis como resultado do aumento da temperatura e da elevação do nível do mar, como as paradisíacas Ilhas Maldivas.
Pode ser que venhamos a ter menos mortes relacionadas ao frio. Mas de acordo com um estudo publicado na revista científica Lancet, entre 2000 e 2019, mais pessoas morreram em consequência do frio do que do calor.
No entanto, um aumento nas mortes relacionadas ao calor deve contrabalancear todas as vidas salvas.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU diz, de maneira geral, "os riscos relacionados ao clima para a saúde [e] subsistência ... devem aumentar com o aquecimento global de 1,5 grau".
Espera-se que quaisquer pequenos benefícios locais de menos dias frios sejam compensados pelos riscos de períodos mais frequentes de calor extremo.
Afirmação 3: ações de mudança climática tornarão as pessoas mais pobres
Uma afirmação comum feita por aqueles que se opõem aos esforços para combater a mudança climática é que os combustíveis fósseis têm sido essenciais para impulsionar o crescimento econômico.
Portanto, limitar seu uso, prossegue o argumento, inevitavelmente retardará esse crescimento e aumentará o custo de vida, prejudicando os mais pobres.
Mas este não é o quadro completo.
Os combustíveis fósseis impulsionaram veículos, fábricas e tecnologia, permitindo aos humanos no século passado fazer coisas em uma escala e velocidade que antes seriam impossíveis. Isso permitiu que muitas pessoas produzissem, vendessem e comprassem mais coisas e ficassem mais ricas.
Mas parar de usar carvão não significa retornar aos dias das carroças puxadas por bois e das máquinas de manivela — agora temos outras tecnologias que podem fazer um trabalho semelhante.
Em muitos lugares, a eletricidade renovável — movida a energia eólica ou solar, por exemplo — é agora mais barata do que a eletricidade movida a carvão, petróleo ou gás.
Por outro lado, estudos preveem que, se não agirmos diante das mudanças climáticas até 2050, a economia global pode encolher 18% por causa dos danos causados por desastres naturais e temperaturas extremas em edifícios, vidas, negócios e suprimentos de alimentos.
Esses danos atingiriam mais duramente os mais pobres do mundo.
Afirmação 4: a energia renovável é perigosamente não confiável
Postagens enganosas alegando que falhas de energia renovável levaram a apagões viralizaram no início do ano, quando uma falha massiva na rede elétrica deixou milhões de texanos no escuro e no frio.
Essas postagens, que foram retomadas por vários meios de comunicação conservadores nos Estados Unidos, atribuíram erroneamente o blecaute às turbinas eólicas.
"Os apagões são um artefato da má gestão da geração e distribuição de eletricidade", disse John Gluyas, diretor-executivo do Durham Energy Institute, nos Estados Unidos.
Ele diz que a alegação de que a energia renovável causa apagões é "absurda ... A Venezuela tem uma grande quantidade de petróleo e apagões frequentes".
De acordo com Jennie King, do centro de estudos ISD Global, esse descrédito das energias renováveis é uma "linha de ataque chave para aqueles que desejam preservar a dependência e os subsídios do petróleo e do gás".
Os críticos dos esquemas de energia renovável também afirmam que a tecnologia mata pássaros e morcegos, ignorando os estudos que estimam que as plantas movidas a combustíveis fósseis matam muito mais animais.
Não há dúvida de que alguns animais selvagens, incluindo pássaros, são mortos por turbinas eólicas.
Mas de acordo com o Instituto de Pesquisa de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente da Universidade London School of Economics and Political Science (LSE), em Londres, no Reino Unido: "Os benefícios para a vida selvagem da mitigação das mudanças climáticas são considerados por ONGs de preservação... para compensar os riscos, desde que as salvaguardas de planejamento corretas sejam postas em prática, incluindo cuidadosa seleção do local."