Por que escassez de ureia ameaça produção de alimentos no mundo
MUNDO
Publicado em 10/12/2021

A escassez deste composto químico já é sentida nos setores agrícola e de transporte da Índia, Coreia do Sul e Austrália. 

Você pode nunca ter ouvido falar dela, mas este composto químico está na lista de produtos escassos no mundo e pode ter um impacto significativo nas cadeias de abastecimento. 

A escassez de ureia já está sendo sentida em várias partes do mundo, incluindo Índia, Coreia do Sul e Austrália. 

Os primeiros a sofrer estão sendo os agricultores e caminhoneiros, mas os problemas de abastecimento relacionados a este produto podem afetar todos os consumidores.

Vamos explicar por quê.

 

O que é a ureia 

É um composto químico encontrado na urina, entre outros lugares. 

Esta ureia em particular é produzida no fígado. 

Mas a ureia também é produzida industrialmente para diferentes usos, principalmente como fertilizante.

E também como ingrediente-chave de um produto para veículos a diesel, necessário para reduzir as emissões de poluentes.

A principal matéria-prima para obter este composto é o gás, que por meio de um processo químico é primeiro convertido em amônia e depois desidratado para formar a ureia.

 

O que está acontecendo

 A ureia é um dos fertilizantes mais populares, e os preços mundiais dos fertilizantes dispararam neste ano a níveis não vistos em mais de uma década, de acordo com o Banco Mundial. 

Há vários fatores que explicam este aumento de preços sem precedentes.

Em primeiro lugar, é impulsionado pelo alto custo da energia, sobretudo do gás, matéria-prima essencial para a produção do fertilizante.

Além disso, de acordo com o Banco Mundial, o aumento dos preços do carvão térmico na China levou ao racionamento do uso de eletricidade em algumas províncias e forçou as fábricas de fertilizantes a reduzir a produção. 

E, em resposta a isso, a China e a Rússia, dois dos principais produtores de fertilizantes do mundo, impuseram restrições às exportações de fertilizantes, o que foi visto como uma medida para arrefecer os preços e garantir o abastecimento interno.

Por outro lado, devemos levar em consideração o impacto do furacão Ida, em agosto, na costa da Louisiana, nos Estados Unidos, que prejudicou a produção de gás natural e ocasionou a suspensão da atividade das fábricas de produtos químicos na região, aumentando a escassez de fertilizantes no mercado. 

Nesse sentido, o Banco Mundial também destaca o impacto das sanções ocidentais contra Belarus, já que este país é produtor de um outro ingrediente fundamental para fertilizantes, o potássio. 

 

Agricultura e preços dos alimentos

 Um dos lugares do mundo onde mais se está sentindo o aumento dos preços e a escassez de ureia é na Índia. 

O país asiático é o principal importador de ureia, produto essencial para alimentar seu imenso setor agrícola, que emprega cerca de 60% da força de trabalho do país e representa 15% da economia. 

A Índia importa aproximadamente 30% das cerca de 35 milhões de toneladas do seu consumo anual de ureia ? e agora os agricultores do país temem que seu modo de vida esteja ameaçado. 

Em última análise, isso terá um impacto sobre os preços dos alimentos, alerta o Banco Mundial.

"Os altos preços dos fertilizantes podem exercer pressões inflacionárias sobre os preços dos alimentos, aumentando as preocupações sobre a segurança alimentar em um momento em que a pandemia de covid-19 e as mudanças climáticas dificultam o acesso aos alimentos". 

 

Cadeias de abastecimento ameaçadas 

O aumento do preço deste composto químico não está sendo percebido apenas na agricultura. 

A ureia também é fundamental para a produção de fluido de escapamento de diesel, solução usada para reduzir as emissões em veículos movidos a este combustível.

Seu uso em caminhões é obrigatório em alguns países, como Coreia do Sul e Austrália ? e isso está afetando as cadeias de abastecimento de ambos os países.

Os caminhoneiros sul-coreanos já estão sofrendo com a escassez de ureia, e Seul pediu ajuda à Rússia no início desta semana para garantir o abastecimento.

Por sua vez, Warren Clark, diretor da Associação Nacional de Transporte Rodoviário da Austrália, disse ao news.com.au que a cadeia de abastecimento do país está sob "extrema pressão". 

A Austrália importa 80% da ureia de que necessita da China. 

"Sem infringir a lei, possivelmente ficaremos sem o produto químico por volta de fevereiro do ano que vem, mas achamos que pode ser antes", afirmou Clark.

"Vimos prateleiras de supermercados vazias durante a pandemia, e isso poderia ser muito pior." 

 

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