Pensador da era digital, o alemão Gerd Leonhard virá ao Brasil para participar do 2º Congresso Olímpico Brasileiro, que ocorrerá entre 19 e 20 de março, em Salvador. O futurista tem mais de 25 anos de experiência na indústria de tecnologia e entretenimento, é autor de best sellers e já deu mais de 1.600 conferências ao redor do mundo, sempre falando sobre tecnologia, ciências e humanidades.
Em entrevista ao Estadão, ele falou sobre como é possível salvar o planeta dos desastres ambientais no futuro, o impacto da pandemia de covid-19 e o que será preciso fazer para lidar com os grandes problemas globais. Considerado um dos pensadores mais influentes do mundo por publicações como a Wired e The Wall Street Journal, ele também coloca o Brasil no centro do desenvolvimento sustentável. "Os próximos dez anos trarão mais mudanças do que os 100 anos anteriores", avisa.
Como você avalia o impacto da pandemia de covid-19 no mundo?
Basicamente, é como um botão de resetar. Tudo que a gente considerava normal mudou. E isso não vai embora e vai se tornar o "novo normal". Tem sido um teste duro para todos. Para os governos, para a cooperação. Mas também nos mostrou muitas coisas interessantes. Vimos que é possível colaborar, como no caso das vacinas, mas para distribuir os imunizantes, nós não cooperamos bem.
Foi possível aprender algumas lições com tudo isso?
A covid-19 é um teste inicial para as mudanças climáticas. Tudo que estamos fazendo para lidar com a covid-19, como dinheiro extra, mais esforços, para além dos governos, estamos aprendendo que precisamos fazer isso também para lidar com as mudanças climáticas. Temos diferentes legislações, precisamos cooperar, é uma lição dolorosa que tivemos. Acho que de muitas maneiras a covid-19, para as pessoas jovens, é como a Segunda Guerra Mundial para os meus pais. É como uma parada, o início de um grande período de mudanças. Por isso digo que os próximos dez anos trarão mais mudanças do que os 100 anos anteriores. Então é um momento difícil, mas que traz grande oportunidade para resetar o que estamos fazendo e como estamos fazendo.
A pandemia também reforçou disputa entre fake news e informação confiável. Acredita que esse conflito ainda vai durar por muito tempo?
Acho que essa é uma outra coisa boa que veio da pandemia de covid-19. Nós percebemos que realmente precisamos ter bons meios de comunicação para informar as pessoas. Não pode ser apenas uma máquina como Facebook e seus algoritmos. Nos últimos dois anos vimos como as notícias ruins correm rapidamente, por causa das mídias sociais, e muitas pessoas passaram a desenvolver uma visão distorcida do mundo. Agora com a covid-19 percebemos que precisamos cooperar, entender uns aos outros e isso significa que precisamos ter meios de comunicação melhores. Imagino que vamos ter mais regulação das mídias sociais, em muitos países vamos ter mais financiamento da mídia pública e não poderemos ter mais mídias geradas apenas por máquinas, como por inteligência artificial. O Facebook, por exemplo, tem conteúdo, mas não escreve nada. Acredito que teremos uma Renascença dos meios de comunicação, com pessoas reais, histórias reais, jornalismo, verdade... Acho que isso está voltando.