Imagine um futuro não muito distante quando você puder reservar aquela viagem de verão para a Itália ou não precisar se lembrar de tirar a máscara para fotos de formatura. Após os últimos 25 meses, esquecer a pandemia, mesmo que por pouco tempo, pode parecer uma fantasia – afinal, o coronavírus já aumentou nossas esperanças antes.
Mas especialistas em doenças infecciosas dizem que pode existir um fim à vista. Talvez. Bem, digamos que não está fora das possibilidades para 2022.
“Acho que, se fizermos certo, teremos um 2022 em que a Covid-19 não dominará tanto nossas vidas”, disse o Dr. Tom Frieden, ex-diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA durante o governo de Barack Obama.
Como será a próxima parte da pandemia e quando será é o que a Dra. Yvonne Maldonado, epidemiologista e especialista em doenças infecciosas da Universidade de Satnford (EUA), e especialistas em agências federais, colegas acadêmicos e líderes locais de saúde pública passaram as férias de fim de ano tentando descobrir.
Pelo menos há um consenso geral entre os especialistas sobre o que acontece a seguir: “Realmente não sabemos exatamente”, disse Maldonado.
Existem modelos de doenças e lições de pandemias passadas, mas a maneira como a variante Ômicron surgiu deixou a bola de cristal dos cientistas um pouco nebulosa.
“Nenhum de nós realmente antecipou a Ômicron”, disse Maldonado. “Bem, havia sinais, mas não esperávamos que acontecesse exatamente do jeito que aconteceu”.
A variante já fez muito. Mais de 25% do total de casos da pandemia de Covid-19 nos Estados Unidos foram relatados no mês passado, durante o surto da Ômicron, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.
A onda parece ter atingido seu pico em algumas áreas onde a variante chegou primeiro nos EUA, como Boston e Nova York. Mas ainda está fora de controle em outras partes do país.
Na Geórgia, por exemplo, líderes médicos da região metropolitana de Atlanta disseram que os hospitais continuam sobrecarregados. Com funcionários doentes, a Guarda Nacional agora preenche as lacunas de saúde em estados como Minnesota.
Especialistas em doenças infecciosas, no entanto, veem esperança ao analisarem o que aconteceu na África do Sul.
Cientistas sul-africanos identificaram a variante pela primeira vez em novembro. Os casos atingiram o pico e caíram rapidamente. O mesmo ocorreu no Reino Unido. E é isso que os especialistas acham que acontecerá em todos os lugares.
“Eu prevejo que no curto prazo – as próximas seis semanas – ainda será bastante difícil”, disse o Dr. John Swartzberg, especialista em doenças infecciosas e professor da Universidade da Califórnia (EUA). “Em meados de fevereiro vamos começar a realmente ver as coisas estão melhorando”;
Se esse pico passar rapidamente, muitos especialistas pensam que pode haver um “período de tranquilidade”.
Swartzberg acredita que março até a primavera ou até o verão será como no ano passado, com um declínio contínuo no número de casos. “Haverá uma sensação de otimismo e então poderemos fazer mais coisas em nossas vidas”, disse o especialista.
Parte de seu otimismo decorre do fato de que haverá uma população imune muito maior, entre o número crescente de pessoas vacinadas e reforçadas e aquelas que pegaram Covid-19 durante o surto recente.
“O nível de imunidade da população também nos ajudará com novas variantes”, disse Swartzberg. Mas o coronavírus provavelmente nunca desaparecerá completamente.
“Antecipo totalmente que outra versão do vírus volte”, disse Maldonado. “Esses são os cenários que realmente trazem incerteza para o que vem a seguir”.
A próxima variante
A próxima variante pode ser tão ou mais transmissível que o Omicron. Pode dar às pessoas sintomas mais graves – ou nenhum sintoma.
“Não está claro”, disse o Dr. George Rutherford, epidemiologista da Universidade da Califórnia (EUA). O vírus pode sofrer mutações gradualmente, como aconteceu com as variantes Alfa e Beta, ou poderia dar um salto muito grande, como com Delta e Omicron, analisa Rutherford.
O vírus da gripe H1N1, por exemplo, era um vírus novo quando iniciou uma das piores pandemias da história em 1918 – acabou infectando um terço da população mundial e matou 50 milhões de pessoas. Essa pandemia acabou, mas o vírus ainda está entre nós hoje.
“Esse foi o primeiro de todos os vírus H1N1 que vemos todos os anos”, disse Maldonado. “Eles tiveram muitas mutações desde então, mas são da mesma cepa. Portanto, é possível que o coronavírus faça algo semelhante.”
Cerca de 35.000 pessoas por ano morrem vítimas da gripe nos EUA, de acordo com o CDC . “E continuamos com nossas vidas”, disse Swartzberg. “Eu não acho que nunca vai voltar ao que era, exatamente.” Maldonado diz que “esse é o melhor cenário”.
Com esse cenário semelhante ao da gripe, o mundo precisa se concentrar em proteger aqueles vulneráveis a doenças graves, garantir que sejam vacinados e tenham acesso a anticorpos monoclonais e antivirais, disse Maldonado. As famacêuticas precisariam fabricar vacinas específicas de variantes para que as pessoas pudessem se vacinar todos os anos.
O pior cenário é se uma variante escapar da proteção de vacinas e tratamentos. “Acho menos provável de acontecer”, disse Maldonado.
Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, disse esperar que esse cenário não se concretize. “Não posso dar uma estatística da chance disso acontecer, mas temos que estar preparados para isso. Então, esperamos o melhor e nos preparamos para o pior”.
Importância da vacinação
Os EUA já têm as ferramentas para limitar novas variantes e acabar com a pandemia rapidamente, diz o Dr. Panagis Galiatsatos.
“Acho que não precisamos de mais avanços científicos, sabemos como impedir casos graves: vacinas”, disse Galiatsatos, professor assistente de medicina e especialista em medicina pulmonar e de cuidados intensivos da Universidade Johns Hopkins. Máscaras e testes também ajudam.
Galiatsatos faz centenas de palestras com grupos comunitários para incentivar mais pessoas a se vacinarem. “Temos as armas para transformar o Covid em nada além de um resfriado forte”, disse Galiatsatos. Temos a ciência. Tudo o que as pessoas precisam é de acesso, e precisamos recuperar a confiança”.
Apenas cerca de um quarto da população dos EUA recebeu as três doses da vacina, de acordo com o CDC. Quanto mais pessoas não vacinadas, mais são internadas. Quanto mais casos, mais oportunidades para novas variantes perigosas.