Os jornais franceses desta quinta-feira (3) destacam lenta desaceleração da quinta onda de covid-19 na França, impulsionada pela variante ômicron. Os especialistas previam que a epidemia daria uma trégua a partir de meados de janeiro, mas as hospitalizações continuam em alta.
Alguns dados sugerem o início da inversão da curva, com as infecções e as entradas na UTIs apresentando uma leve diminuição, mas os hospitais continuam lotados. Em entrevista ao jornal Les Echos, Simon Cauchemez, especialista em modelização epidemiológica do Instituto Pasteur disse que o pico das internações está próximo.
A França está próxima do recorde de hospitalizações por covid-19 de novembro de 2020, quando cerca de 33 mil e 500 pessoas estavam internadas. Atualmente, cerca de 32 mil e 400 pacientes estão hospitalizados.
Em Paris, principalmente, a quantidade de entradas nos hospitais diminui lentamente a cada dia. Para Jean-Louis Teboul, chefe do serviço de Medicina Intensiva do hospital Bicêtre, na região parisiense, esse fenômeno pode ser indicar uma desaceleração da quinta onda em escala nacional, "se as restrições não forem todas flexibilizadas ao mesmo tempo", diz ao jornal Les Echos.
Para o especialista, a Dinamarca - que relaxou recentemente todas as medidas - não deve ser tomada como exemplo. Segundo ele, agora, o mais importante é manter o uso da máscara em lugares e a exigência do passaporte vacinal.
Taxa de vacinação das crianças é baixa
O jornal Le Figaro destaca o avanço lento da vacinação na faixa etária de 5 a 11 anos. "Seis semanas após o início desta campanha, a imunização das crianças caminha a passos lentos", afirma o diário.
Apenas 4% das crianças, incluindo as que correm risco de desenvolver uma forma grave da Covid-19, receberam uma dose da versão pediátrica da vacina da Pfizer. A França está muito atrás dos países vizinhos: na Espanha, 52% das crianças de 5 a 11 anos foram imunizadas; na Itália, 28% e, na Alemanha, 16%.
O governo espera acelerar a campanha antes do recesso escolar de fevereiro. Na terça-feira (2), o ministro francês da Saúde, Olivier Verán, presidiu um webinar junto a clínicos gerais, pediatras e profissionais de saúde de hospitais para reforçar a importância e os benefícios da vacinação contra a covid-19 para essa faixa etária. Mais de 600 crianças com menos de 10 anos estão internadas, 106 em estado grave nas UTIs.
A cidade dos antivacinas
Já o jornal Le Parisien foi até o município de Barjols, no sul da França, a cidade com a menor taxa de vacinação do país, onde 62,6% dos habitantes estão completamente imunizados, contrastando com os 78% em escala nacional. A reportagem do diário ouviu os depoimentos de quem recusa o imunizante. É o caso de Jean, 63 anos, que afirma que não precisa de vacina e que sua saúde é ótima. "Corro como uma lebre", diz.
Nessa cidade de apenas 3 mil habitantes, os moradores têm orgulho de serem avessos à vacina. Donos de bares e restaurantes se recusam a exigir o passaporte sanitário dos clientes. "Se a polícia me impuser uma multa, eu não vou pagar", diz Éric ao jornal.
Le Parisien afirma que mesmo entre as pessoas que aceitaram se vacinar, a desconfiança é grande. É o caso da garçonete Anne, que se imunizou mas teme que, daqui a dez anos, todos os que fizeram como ela possam morrer devido a supostos efeitos do imunizante anticovid.