China e França articulam resposta do G20 contra pandemia, sem Trump
Banco Mundial pede que pagamento de dívida de países pobres seja suspensa
Agências internacionais
23/03/2020 - 18:47 / Atualizado em 24/03/2020 - 10:52
WASHINGTON E RIAD - Ministros das Finanças e banqueiros das 20 maiores economias do mundo concordaram nesta segunda-feira em desenvolver um "plano de ação" para responder à pandemia de coronavírus, que o FMI espera que vá provocar uma severa recessão global. A iniciativa começa a ganhar forma 12 dias depois de a Organização Mundial de Saúde declarar oficialmente que há uma pandemia em curso no mundo.
Países como França, China e Arábia Saudita estão com o protagonismo da articulação da resposta, mas não os Estados Unidos. Nesta segunda-feira, os líderes da França, Emmanuel Macron, e da China, Xi Jinping, falaram-se por telefone, concordando sobre a necessidade de urgência na convocação de uma reunião do grupo das 20 maiores economias globais, a ser realizada por videoconferência.
A cúpula também está sendo convocada pela presidência deste ano, a Arábia Saudita. O encontro será complicado por uma guerra de preços do petróleo entre o país árabe e a Rússia, além de uma guerra de narrativas entre os Estados Unidos e a China. Washington procura transmitir a imagem de que a responsabilidade pela epidemia é chinesa, enquanto Pequim, que controlou internamente a epidemia, faz um forte esforço para ajudar outros países e construir uma narrativa de triunfo.
O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse à Fox News que seus colegas concordaram na manhã desta segunda-feira em tomar medidas para apoiar suas próprias economias e coordenar internacionalmente, conforme necessário, mas não deu detalhes.
As autoridades do Japão e da Argentina emitiram suas próprias declarações pedindo uma ação mais decisiva, enquanto especialistas externos disseram que medidas específicas são urgentemente necessárias, para muito além das garantias gerais oferecidas pelo G20 até o momento.
Durante a reunião, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, pediu na aos países do G20 que deixem os países mais pobres suspenderem todos os pagamentos de crédito oficial bilateral devido ao impacto adverso em suas economias devido à pandemia.
— Estes são tempos difíceis para todos, especialmente para os mais pobres e vulneráveis — afirmou Malpass. — O primeiro objetivo do Banco Mundial é fornecer apoio imediato durante a crise, com base nas necessidades de um país.
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A Argentina, cuja dívida foi considerada insustentável pelo FMI, alertou os membros do G20 de que devem agir decisivamente para "evitar um colapso social" à medida que a pandemia se espalha.
O ministro das Finanças da Argentina, Martín Guzmán, disse a outros ministros no telefonema do G20 que os países devem usar o "conjunto de ferramentas" inteiro das políticas econômicas.
— É da maior importância que aprofundemos os esforços de coordenação e cooperação globais o máximo possível, a fim de preservar a estabilidade social global — disse Guzmán em comentários preparados para serem entregues ao grupo.
O Japão, um membro do G7, expressou profunda preocupação com o impacto do coronavírus e instou os membros do G20 a agir "sem hesitação em tempo hábil".
Harry Broadman, diretor administrativo da Berkeley Research e ex-alto funcionário do governo dos EUA, disse que a crise pedia "uma ação coletiva extensa e sistemática para mitigar riscos transfronteiriços e criar uma solução tangível duradoura" para proteger a saúde pública e a prosperidade econômica do mundo.
Ele disse que o G20, e não apenas o G7, deve se reunir pelo menos mensalmente e conforme necessário para reforçar a confiança global. Mas eles precisavam fazer mais do que se concentrar em promessas de coordenação.
— Deve haver compromissos materiais executados para todo o mundo ver e avaliar os resultados reais — disse ele. — Sem prestação de contas, tudo isso pode ser inútil.
Mnuchin disse que os Estados Unidos estão trabalhando em estreita colaboração com os países do G20, o Grupo dos Sete (G7), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial na resposta à crise.
— Este é um esforço de equipe para matar esse vírus e fornecer alívio econômico — disse Mnuchin, que está lutando simultaneamente para garantir a aprovação do congresso de um pacote de resgate de quase US $ 2 trilhões nos EUA.
O FMI e o Banco Mundial, na segunda-feira, previram que a pandemia provocaria uma recessão global em 2020 e redobraram os pedidos de resposta global.
A diretora administrativa do FMI, Kristalina Georgieva, saudou as medidas fiscais e monetárias já adotadas pelos países, mas disse que seriam necessárias mais, especialmente no campo fiscal.
"Os custos humanos da pandemia de coronavírus já são imensuráveis e todos os países precisam trabalhar juntos para proteger as pessoas e limitar os danos econômicos", afirmou ela em comunicado.
Os ministros das finanças e os banqueiros centrais do G7 realizarão uma teleconferência própria na terça-feira, segundo uma fonte familiarizada com os planos.