Mas, se o ingrediente atrasar, a campanha de vacinação no Brasil será seriamente afetada, alertam analistas. O grosso do Plano Nacional de Imunização é a vacina de Oxford, a principal aposta do governo Jair Bolsonaro. O contrato com a AstraZeneca prevê que, se o laboratório não fornecer o IFA à Fiocruz, deverá enviar as vacinas já prontas ao Brasil.
— A Fiocruz aguarda apenas a chegada do IFA. Caso não chegue até o dia 25, há um contrato que prevê que a AstraZeneca, responsável por esse processo, terá de nos fornecer doses prontas. Estamos com a linha de produção completamente pronta para dar início. Precisa ter o ingrediente, a matéria-prima. Não podemos fazer nada sem ter a IFA enviada do Exterior — afirmou a pesquisadora da instituição, Margareth Dalcolmo, à CNN nesta segunda-feira.
A Fiocruz, contatada por GZH nesta segunda-feira (18), informou por meio de sua assessoria de imprensa que o contrato possibilita a chegada do IFA até o fim de janeiro. Acrescentou, ainda, que o cronograma de produção detalhado será divulgado em breve e destacou que a instituição está pronta para começar a produção, bastando apenas o IFA ser enviado pela AstraZeneca.
Questionada sobre o motivo do atraso no recebimento do IFA, a Fiocruz informou que a reportagem deveria buscar a AstraZeneca. Procurada por GZH, a AstraZeneca enviou uma nota na qual afirma que “continua trabalhando para liberar os lotes planejados de IFA para a vacina o mais rápido possível”.
O envio do IFA ao Brasil esbarra também em questões diplomáticas na China, país do laboratório que deverá fornecer o ingrediente à Fiocruz, informou o jornal Folha de S.Paulo.
O Ministério da Saúde disse a GZH que a China “é uma das grandes produtoras de IFA para Butantan e Fiocruz, e o governo brasileiro segue com negociações diplomáticas relativas à questão, bem como a AstraZeneca Global e a representante do Brasil”.
— A informação que temos é de que Fiocruz e Butantan estão fazendo o máximo de esforço para esse processo se tornar mais ágil. A notícia é muito boa de começar a vacinação, mas sabemos que isso vai terminar rapidamente. Temos que esperar o governo e as instituições envolvidas agilizarem esses processos para poder finalmente começar a produzir no Brasil. Aí muda completamente o cenário. Enquanto não começar a produção aqui no Brasil, não deslancharemos a campanha — afirma Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
No domingo (17), a Anvisa aprovou, além das 6 milhões de doses da CoronaVac importadas da China, 2 milhões de doses da vacina de Oxford produzidas no Instituto Serum, da Índia. As negociações não avançaram por entraves diplomáticos do governo indiano, que deve fornecer as doses de Oxford antes aos vizinhos Butão, Bangladesh, Nepal, Mianmar, Sri Lanka, Afeganistão, entre outros, segundo o jornal Times of India.
Em coletiva na tarde desta segunda-feira (18), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que não teve até agora "resposta positiva" sobre a importação das doses da Índia, mas disse que recebeu a “sinalização” de que o embarque ocorrerá nesta semana.
Em nota a GZH, o Ministério da Saúde afirma que o governo brasileiro segue em tratativas diplomáticas com a Índia e que “todas as medidas que cabem ao Ministério da Saúde foram executadas, desde a compra da vacina em sua totalidade, emissão de documentos de importação e exportação, além de contratação de transporte”.
— Essas doses (6 milhões da CoronaVac) não dão nem para imunizar os profissionais da saúde do Brasil. É o problema de depender da tecnologia estrangeira e fazer vacina da AstraZeneca ou da Sinovac. Se tivéssemos feito uma vacina brasileira, estaríamos produzindo e vendendo — comenta a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI).