O pouso da missão Mars 2020, da NASA, está programado para hoje às 17h55 (horário de Brasília), quando o rover Perseverance e o helicóptero Ingenuity passarão por algo que recebe o apelido de "sete minutos de terror". Durante esses minutos, o módulo de pouso deixará a segurança da órbita de Marte para atravessar a atmosfera e chegar ao solo, tudo de forma autônoma. O local de pouso é a cratera Jezero, que já foi bem fotografada por missões anteriores.
A Jezero fica em uma planície chamada Isidis Planitia, que por sua vez está dentro de uma bacia de impacto gigantesca de 1.200 km de largura, acima da linha do equador. Essa estrutura maior tem algo entre 3 a 4 bilhões de anos de idade, formada por um cometa ou asteroide. Mais tarde, um meteoro menor caiu na superfície marciana, criando a Jezero. A parte interessante que motivou a NASA a escolher a Jezero como local de pouso é que suas características indicam que um rio já desaguou na cratera.
Nas imagens obtidas por lentes de outras missões, como a câmera estéreo de alta resolução da sonda orbital Mars Express, da Agência Espacial Europeia, os sinais de um antigo delta dentro da Jezero podem ser identificados. Ainda há muito o que ser analisado sobre a região e suas possíveis formações geológicas antes de bater o martelo nas hipóteses sobre o passado de Marte, e é exatamente essa a tarefa do Perseverance.
Além de analisar o terreno e procurar por sinais de um possível delta de um rio, o rover também vai tentar encontrar bioassinatura. Pode ser que nenhuma forma de vida seja encontrada, mas há expectativas de que alguma espécie de microorganismos estejam fossilizados nos sedimentos do antigo rio.
O local exato de pouso do Perseverance é a área com um círculo branco na imagem abaixo, que está dentro da cratera Jezero. Ela mede 7,7 x 6,6 km de diâmetro, mas toda a área na borda em forma de um leque aberto era, provavelmente, coberta por água, formando um lago com cerca de 500 metros de profundidade.
Quanto aos sedimentos, os cientistas já sabem que são compostos por argila e carbonatos, o que evidencia a presença de água em tempos antigos. Aliás, a palavra Jezero significa “lago” em várias línguas eslavas, como o croata, o tcheco, o sérvio, e o esloveno. O nome foi escolhido pelos cientistas porque, a princípio, apenas um antigo lado explicaria essa formação geológica. Na imagem abaixo, várias fotos capturadas pela Mars Reconnaissance Orbiter Context Camera, da NASA, foram colocadas juntas para criar um mosaico de alta resolução da cratera Jezero.
Esta será a primeira missão concebida para coletar rochas e regolito de Marte, o que dará aos cientistas uma noção muito melhor das assinaturas. Com isso, eles terão mais evidências para reconstruir o passado do Planeta Vermelho, incluindo o antigo clima. Quanto à formação circular na borda esquerda da cratera, que formaria a margem do lago, ela tem quase meio quilômetro de altura.
Considerando que a vida na Terra se originou na água, há boas chances de que o antigo lago marciano foi um lugar habitado, ainda que por bactérias ou quaisquer outros seres microscópicos. Registros nos sedimentos da cratera podem indicar que para seres vivos unicelulares estiveram no fundo deste lago, e para encontrar esses registros, os cientistas buscarão determinados padrões.
A costa do lago é provavelmente um depósito de carbonatos, minerais que podem ser semelhantes ao calcário da Terra. Se compararmos com algo parecido ao que temos aqui, em nosso planeta, seria um mineral que geralmente se forma no fundo do mar, muitas vezes repleto de fósseis.
Tanto a imagem acima quanto o diagrama abaixo mostram a trajetória programada para o Perseverance ao longo de sua missão em Marte. O rover começará no solo da cratera Jezero, se moverá pelo delta e subirá pela borda da cratera. A NASA estima que será uma viagem de 16 km, aproximadamente, e o rover deve operar por um período de 687 dias terrestres, o equivalente a um ano em Marte.
Contra todas as expectativas de grandes descobertas nessa região marciana estão os desafios que a geologia de Jezero impõem à equipe da NASA. Aliás, pousos em Marte têm histórico de apenas 50% de sucesso, por isso os "sete minutos de terror" serão bastante intensos. A equipe da agência espacial só ficará sabendo se o pouso deu certo quando o lander já tiver atravessado a atmosfera do Planeta Vermelho, pois a transmissão de dados da nave leva aproximadamente 14 minutos para chegar à Terra.
Tudo correndo bem com o Perseverance em seu pouso, ele começará a tirar algumas fotos para enviar imagens de Marte à Terra. Depois, a NASA vai verificar se tudo está bem com o Perseverance e com o helicóptero Ingenuity, uma etapa que deve durar cerca de um mês. Se todos esses desafios forem superados, restará aguardar para saber os resultados das primeiras leituras de dados.
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