O governo da China inaugurou esta semana uma nova infraestrutura de internet conectando as 40 principais universidades e institutos de pesquisa do país. A apresentação da "nova web" foi feita no laboratório de tecnologias digitais da Tsinghua, a mais renomada faculdade de ciências exatas do país.
Oficialmente, a infraestrutura que custou US$ 260 milhões foi apresentada como uma nova geração de cabeamento, roteadores, servidores e backbones para elevar a eficiência da troca de dados, diminuir a latência de pesquisas na web e permitir a conexão estável de bilhões de dispositivos simultâneos. Estas características seriam "essenciais" para permitir a massificação de tecnologias de inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT).
Os investimentos na "nova rede" chinesa, no entanto, podem ter como objetivo maior proteger as instituições do país de ciberataques e de espionagem, uma vez que, tecnicamente, a infraestrutura já em uso no país não impede o avanço de aplicações de IA e IoT.
Segundo Tan Hang, diretor da China Unicom, em entrevista ao jornal South China, a nova rede usa tecnologia totalmente chinesa, incluindo processadores nacionais. A fabricação de processadores ainda é um desafio para as empresas chinesas, que dependem de itens importados, por não dominar totalmente esta cadeia produtiva.
As pesquisas para o desenvolvimento de uma "nova internet" começaram em 2013, após as revelações feitas pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden, apontarem tentativas sistemáticas de espionar a China.
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Como, até então, grande parte da infra chinesa usava equipamentos ocidentais, técnicos da CIA teriam obtido, com os fabricantes de equipamentos, informações sobre falhas e backdoors na rede usada na China. Entre os documentos vazados à época por Snowden, há referências diretas à invasão de redes em universidades do país, como a Tshinghua.
De acordo com o anúncio feito esta semana, a "nova rede" se comunicará com a internet comercial usada no mundo todo, no entanto, informações sensíveis só trafegarão dentro da rede interna.
Durante o anúncio, o governo chinês informou que novos investimentos serão feitos para conectar a rede exclusiva a outros institutos no exterior, como centros de pesquisa dos países membros da Asean, como Indonésia, Vietnã, Malásia e Filipinas.
O anúncio sinaliza a intenção chinesa em exportar tecnologias sensíveis para estes países.