Muita gente acredita que a inteligência humana tenha características genéticas, que podem ser transmitidas de pai para filho como uma mutação. Até hoje nunca houve nada conclusivo a ponto de se afirmar que os genes podem tornar alguém mais ou menos inteligente. Mas, se isso for realmente possível, talvez esta seja a hora de garantir uma linha sucessória de pequenos gênios. Isso porque o famoso geneticista e professor da Universidade de Harvard George Church vai comercializar o seu DNA como um token não-fungível (NFT).
A Nebula Genomics, empresa tecnológica criada por Church, vai oferecer um serviço de sequenciamento genético para quem deseja mapear suas características únicas. A venda do DNA do professor é parte da estratégia de lançamento da companhia, que pode atrair artistas, celebridades, intelectuais e empresários interessados em replicar sua inteligência.
“Como um dos primeiros genomas já sequenciados, o DNA do professor Church carrega um grande significado histórico para o campo da genômica pessoal, pois foi usado em incontáveis estudos e artigos e representa um momento crucial na ciência e na história humana”, explica o site da startup.
Quem é o cara?
Church é um ferrenho defensor da ciência genética, sendo um dos pioneiros do segmento. Ele já sugeriu a recriação de mamutes, a transformação genética de pessoas em super-humanos, trabalhou em um aplicativo de namoro que combina pessoas com base em seu código genético e injetou em si uma vacina contra a COVID produzida por ele mesmo.
Leciona genética na Harvard Medical School e no MIT, além de liderar a equipe de biologia sintética no Harvard’s Wyss Institute for Biologically Inspired Engineering. É o diretor do Centro de Tecnologia de Energia do Departamento dos Estados Unidos e do Instituto Nacional de Saúde do Centro de Excelência em Ciência Genômica.
O professor desenvolveu o primeiro método de sequenciamento genômico direto em 1984 e ajudou a iniciar o Projeto Genoma neste mesmo ano. Em razão disso, foi uma das primeiras pessoas a ter todo o seu genoma sequenciado. Quase 20 anos depois, em 2005, Church ajudou a lançar o Projeto Genoma Pessoal e se tornou a primeira pessoa a divulgar publicamente seus dados genômicos e registros médicos para fins de pesquisa.
“O NFT não foi ideia minha, mas espero que seja uma boa ideia tanto para o vencedor do leilão quanto como um evento que aumenta as conversas sobre a revolução que está acontecendo na leitura e escrita de DNA”, disse Church ao portal The Scientist, por e-mail.
Os dados do genoma de Church já estão disponíveis para download gratuito por meio do projeto patrocinado por Harvard. Como se sabe, isso não costuma ser um problema para os colecionadores de NFT, que investem milhões de dólares na compra de arquivos que podem ser baixados da internet sem muito esforço.
O comprador terá direitos de propriedade exclusiva sobre os dados armazenados em blockchain como um NFT. A pergunta que não quer calar é: sendo dono do sequenciamento genético, o comprador poderia replicar cópias do estudioso?
Um novo mercado
Por meio da Nebula Genomics, o co-fundador Kamal Obbad espera lançar um tipo diferente de negócio que esteja realmente alinhado com o usuário comum e mais focado em fornecer um bom produto, em vez de apenas agregar o máximo de dados possível. O objetivo é tirar a ciência dos laboratórios e levá-la para o cotidiano das pessoas.
Obbad argumentou que um NFT fazia sentido “porque, por si só, um genoma é realmente um ativo digital não fungível — e diferentes genomas terão diferentes valores inerentes”. Por exemplo, um paciente com dados de uma doença rara seria inerentemente mais valioso do que os dados de uma pessoa completamente saudável. O DNA de uma artista pode sair bem mais caro do que de um cidadão comum.
Em vez de simplesmente ganhar dinheiro, o projeto vai destinar parte dos lucros para a pesquisa genômica. A ideia da empresa com a ação é chamar atenção para o campo de estudo e desenvolver pesquisas que ajudem a curar doenças genéticas.
NFT em alta
Os non-fungible tokens ou NFT são arquivos únicos semelhante a certificados digitais que conferem propriedade ao seu dono. Como um NFT usa a tecnologia blockchain é possível garantir a autenticidade e unicidade de um objeto.
Inicialmente, o seu uso era bastante restrito ao mundo das artes e do design. Com a popularização das criptomoedas, contudo, o NFT começou a ganhar importância e destaque em outros segmentos que trabalham com direitos autorais: músicos, engenheiros, arquitetos e até escritores já estão comercializando suas produtos neste formato.
Recentemente, um NFT do rosto de Edward Snowden foi vendido por US$ 5,5 milhões. Um jornalista do New York Times conseguiu a bagatela de US$ 3,2 milhões por um artigo que aborda de forma bem humorada a febre das criptomoedas que tomou a internet nos últimos meses. Quem sabe o Canaltech não comercialize esta matéria por alguns milhões também, não é?
Aqui no Brasil, a empresa de calçados infantis Pampili vai lançar, agora em maio, um leilão de NFT com um modelo exclusivo de tênis. O comprador receberá o arquivo digital e uma versão física da criação, cujo objetivo é arrecadar fundos para uma instituição de caridade.
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