JERUSALÉM, LONDRES E TÓQUIO — O avanço da variante Delta do novo coronavírus pelo mundo, apontada como mais letal e mais contagiosa por autoridades de saúde, vem provocando uma explosão no número de novos casos em vários países e pondo em xeque os planos de retomada até em nações onde a vacinação está avançada, como Israel, que começaram a reimpor medidas restritivas. O órgão de prevenção de doenças da União Europeia (UE) indicou nesta quarta que, até o fim de agosto, 90% dos novos casos de Covid-19 no bloco poderão ser causados pela variante Delta.
Em Israel, país que já vacinou com duas doses quase dois terços da população e que praticamente não observava mais medidas de restrição de contato, foram registrados na segunda e terça-feira mais de 100 novos casos diários. O novo surto ocorreu em sua maioria no sistema educacional da cidade de Binyamina-Giv’at Ada, no Norte. A área foi colocada no alerta laranja, o que indica um contágio “moderado” — é a primeira vez que a classificação é usada desde abril.
Por causa das infecções, o governo apertou o cerco especialmente em pontos de chegada do exterior, como aeroportos e postos de fronteira, e poderá impor uma quarentena obrigatória de 14 dias para quem esteve em contato com pessoas contaminadas. A medida vale inclusive para aqueles que já foram vacinados. Máscaras voltam a ser obrigatórias em aeroportos, postos de fronteira e instalações médicas — restrições de viagem a países como o Brasil, Argentina e México seguem em vigor.
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Estudantes em escolas com casos de Covid-19 precisarão ficar em quarentena, e os pais serão obrigados a pagar multa de 5 mil shekels (R$ 7,6 mil) caso o isolamento seja violado. Ao mesmo tempo, as autoridades fazem um apelo para que os mais jovens sejam vacinados — as doses da Pfizer estão disponíveis a pessoas entre 12 e 15 anos desde o mês passado.
Mais agressiva
Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a variante Delta, que caminha para se tornar a predominante no planeta, espalha-se mais rapidamente e é mais letal que as demais variantes. Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Enfermidades (ECDC), essa variante deve representar 90% de todos os novos casos na UE até o final de agosto. Países como a Noruega apresentam as mesmas projeções para as próximas semanas.
Na Rússia, a variante é apontada como responsável por uma forte elevação no número de casos em Moscou: foram mais de 9 mil infecções diárias nos dias 18 e 19 de junho, chegando a 6.534 nesta quarta. A capital russa registrou nesta quarta-feira 548 mortes, o maior número para um só dia desde fevereiro. Os contágios estão "em alta em todas as regiões da Rússia" e há uma "disseminação explosiva da doença", alertou a vice-primeira-ministra da Saúde, Tatiana Golikova.
— A situação se tornou explosiva, e continuará difícil — disse o prefeito de Moscou, Serguei Sobianin.
Apesar de as vacinas serem eficazes contra a variante — no caso da Pfizer, a eficácia é de 88%, contra 97% para evitar casos sintomáticos da versão “original” da doença ou 93% no caso da variante Alfa — existe a possibilidade de infecção mesmo entre pessoas imunizadas. Na prática, isso significou uma mudança nos planos de retomada em muitos países que já visavam o retorno de turistas e da plena atividade econômica já no final do primeiro semestre.
É o caso de Portugal, que teve quase 1,5 mil novos casos na terça-feira, maior número desde fevereiro, um aumento que coincide com a reabertura a turistas vindos de países como o Reino Unido, onde a variante Delta prevalece. Para conter os novos casos no país, o governo português tenta aumentar o percentual da população plenamente vacinada, hoje em 30%.
Também por causa do aumento de casos, o Reino Unido adiou em quatro semanas a reabertura completa do país. Na terça-feira, a média de novas infecções ficou em torno de 10 mil, oito mil a mais do que a média de um mês atrás. As autoridades afirmam que 99% dos casos são relacionados à variante Delta. Mesmo assim, o premier Boris Johnson disse, na semana passada, estar confiante de que a reabertura, agora prevista para o dia 19 de julho, vai ocorrer como previsto.
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Mas fora do Reino Unido há preocupação com o ritmo das infecções no país. Nesta quarta-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu que os países da UE imponham uma quarentena de 14 dias a todos passageiros vindos de cidades britânicas, como ocorre na Alemanha. Em discurso ao Parlamento, ela disse que “a pandemia ainda não acabou. Ainda estamos pisando em gelo fino". Segundo o Instituto Robert Koch, orgão responsável pela sáude pública na Alemanha, na última semana, dobrou para 15% o percentual de casos de Covid causados pela variante Delta no país.
Alertas esportivos
Autoridades sanitárias e mesmo lideranças europeias também questionam os planos do Reino Unido de abrir os estádios para até 60 mil pessoas para as semifinais e a final da Euro 2020, previstas para julho. O premier italiano, Mario Draghi, defendeu uma mudança de local, mas a UEFA, a instituição que comanda o futebol no continente, disse “não ter planos” para levar os jogos a outros países.
Outro evento esportivo que preocupa são os Jogos Olímpicos de Tóquio, que começam daqui a 30 dias. A capital japonesa deixou de lado o estado de emergência, mas especialistas alertam que o cenário pode mudar com o fim de algumas restrições e a chegada de milhares de atletas, treinadores e jornalistas ao país.
Todos estarão sujeitos a testes diários e regras dentro da Vila Olímpica e de arenas esportivas — os (poucos) espectadores não poderão falar alto, beber álcool ou confraternizar com outros torcedores. Apenas pessoas com residência no Japão podem comprar ingressos.
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