Na sexta-feira (6), Israel e o Líbano registraram novas tensões na fronteira, após o grupo xiita Hezbollah ter lançado 19 foguetes contra o território israelense.
Desses foguetes, três acabaram por cair em solo libanês, enquanto os restantes 16 atingiram Israel que, por sua vez, apenas conseguiu interceptar dez deles com o seu sistema de defesa Cúpula de Ferro.
Um ciclo de violência sem fim à vista
O dr. Eyal Zisser, vice-reitor da Universidade de Tel Aviv e especialista no grupo Hezbollah, tem monitorado a situação de perto. Em sua opinião, as recentes hostilidades apenas voltaram a mostrar que "o Exército libanês não controla o Líbano".
"Sabemos disso há anos. O Exército libanês está impotente. Pode agir quando se trata da lei, mas quando se trata de confrontar o Hezbollah, não está preparado para a tarefa", disse à Zisser à Sputnik Internacional.
Esta não é a primeira vez que o Hezbollah e seus aliados atacam Israel desse jeito, sendo que na quarta-feira (4) as tensões entre os dois Estados voltaram a escalar, quando vários foguetes atingiram o norte de Israel.
Os militares israelenses retaliaram esses ataques, visando instalações militares no sul do Líbano, o que agravou ainda mais a situação e, como resultado, estimulou nova resposta do Hezbollah.
Ante os repetidos incidentes, o medo entre os israelenses que vivem na área afetada tem crescido, e, apesar de ainda não ter havido qualquer registro de vítimas, relatos sugerem que várias pessoas procuraram assistência psicológica para lidar com a instabilidade. Na verdade, alguns residentes dizem temer que a situação se descontrole e que outra guerra possa estar chegando.
Poderá haver uma nova guerra?
Zisser acredita que as hostilidades recentes foram nada mais que uma "troca de mensagens" e nenhum dos lados está interessado em uma nova escalada das tensões.
"Quando disparam foguetes, evitam atingir áreas muito povoadas. São, na sua maioria, locais desabitados e abertos ou o mar".
A Segunda Guerra do Líbano, em 2006, deixou cicatrizes profundas na memória dos militantes do Hezbollah. Durante esse conflito de 33 dias, jatos israelenses lançaram cerca de sete mil bombas e mísseis contra o sul do Líbano, destruindo gravemente a infraestrutura do país e, um ano após a guerra, o dano total foi estimado em US$ 3,5 bilhões (aproximadamente R$ 18,3 bilhões).
O especialista acredita que o grupo não quer retornar a esses dias, especialmente quando seu país se encontra em meio a uma profunda crise econômica e política. Por outro lado, o Hezbollah parece, no momento, não ter o mesmo nível de popularidade que tinha antes.
"Para eles [o Hezbollah], arrastar o Líbano para outra guerra significa conduzir o país para o colapso. Isso seria suicídio", disse Zisser. Contudo, o mesmo se poderia dizer sobre Israel, aponta o especialista.
Julgando a situação atual do país, o Estado judeu tem seus próprios problemas, especialmente enquanto está enfrentando a quarta onda da pandemia do novo coronavírus.
Como resultado da pandemia, Israel está lidando com uma situação alarmante de desemprego, bem como com questões de segurança em sua fronteira sul, com militantes do Hamas.
Adicionalmente, as divisões dentro do novo governo tornarão ainda mais difícil para o primeiro-ministro Naftali Bennett travar uma guerra com o Líbano.
Porém, Eyal Zisser avisa que "enquanto sabemos como a escalada destas tensões começa, ninguém sabe como vai acabar". Por essa razão, e considerando suas próprias situações internas, Israel e o Líbano devem tomar cuidado para não se envolverem em um novo conflito.