Governo local se mantém parceiro de Israel, mesmo fazendo parte da Liga Árabe, e em meio ao conflito na Faixa de Gaza.
Enquanto a guerra entre Israel e Hamas prossegue, em um conflito que parece interminável, a convivência entre judeus e árabes é marcada pela harmonia nos Emirados Árabes, um país de cerca de 10,2 milhões de habitantes.
O país, há 70 anos vivia uma guerra interna e uma relação de hostilidade com Israel. Atualmente, mesmo em meio aos conflitos em Gaza, comunidades judaicas estão plenamente incluídas na vida em Dubai, cuja população é de cerca de 3,2 milhões de pessoas.
"Aqui a vida está normal, o conflito não influencia no relacionamento entre as comunidades", conta Ilan Sztulman, que até o ano passado era cônsul de Israel em Dubai.
Agora, afastado das funções diplomáticas, ele decidiu continuar na cidade por um tempo, atuando como consultor de empresas.
Ele conta que, nas ruas de várias comunidades judaicas convivem com a população local. O islamismo é a religião oficial no país, seguido por 76% da população.
"Tenho amigos muito próximos palestinos, muçulmanos, todos convivem em um clima de civilidade", observa ele. "Minha filha mais velha, por exemplo, acabou de ir para a casa da amiguinha dela, que é iraquiana."
Isso não quer dizer que a guerra que prossegue violenta a 2,4 mil km de lá, na Faixa de Gaza, não cause repercussões.
"Claro que há críticas a Israel, há algumas pessoas mais radicais, de países como o Paquistão e o Afeganistão, mas elas não prevalecem sobre o clima de entendimento."
Sztulman conta que o governo dos Emirados Árabe manteve uma postura de parceiro de Israel, depois do início do conflito. Sem, no entanto, se contrapor aos países árabes.
"Logicamente, eles pedem a Israel um cessar-fogo, eles tomam cuidado para não se indispor com a Liga Árabe, da qual fazem parte", explica o diplomata, que já foi cônsul de Israel em São Paulo e embaixador israelense na Argentina. "Mas não se trata de um governo anti-israelense e muito menos antissemita."
Neste momento, os negócios entre ambos os países diminuíram o ritmo.
Mas apenas pelo fato de que, como muitas companhias israelenses lá instaladas são formadas por jovens, a atividade foi reduzida. Os funcionários e os proprietários foram convocados para os combates.
"Quando os conflitos se encerrarem, as atividades voltarão ao normal."
A população judaica tem crescido em Dubai, segundo ele. Atualmente já são cerca de 2 mil moradores vindos de Israel. A maioria atua em companhias de tecnologia, que têm atraído investimentos pelo fato de que, em Dubai, não há Imposto de Renda.
A taxa única cobrada é de 8%, valor bem menor do que o de outros países da região e da Europa.
O país tem reduzido a participação no Produto Interno Bruto (PIB) dos negócios com petróleo e gás natural, com maior abertura para receitas vindas do comércio, pesquisa e tecnologia e energia limpa.
"Não é necessário morar aqui para ter um negócio", conta Sztulman. "Tem atraído muita gente, ainda mais por causa do porto, que é muito eficiente, e do aeroporto, dinâmico e com voos para todas as partes do mundo."
Ele esteve em Israel há duas semanas.
O conflito se tornou um drama pessoal também para o diplomata. A esposa do primo dele foi assassinada nos ataques terroristas do Hamas, em 7 de outubro.
Dois dos seus primos, um deles marido da moça que morreu, foram sequestrados. Apenas um, que é criança, foi libertado durante a trégua do fim de novembro.
"É muito difícil lidar com essa situação, uma angústia diária." Como diplomata, Sztulman acredita que o modelo implementado em Dubai pode ser uma solução para os conflitos no futuro. Os Emirados Árabes se tornaram independentes há 52 anos.
Vinte anos antes, várias tribos digladiavam por poder e territórios, como Abu Dhabi e Dubai, que se uniram para desenvolver um país. Da mesma maneira que, no futuro, o Hamas e o Fatah, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, podem se entender para criar um país livre e desenvolvido, em paz com Israel.
"Dubai se tornou uma Nova York muçulmana", descreve. "É um experimento que deu certo e que, décadas atrás, parecia impossível de ser realizado."
O que mostra, conforme ele diz, que, no Oriente Médio, sonhar e realizar, em meio à dor e à guerra, nem sempre é impossível.