O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadeou uma nova crise nas relações com o Brasil ao abrir oficialmente uma investigação contra as práticas comerciais brasileiras e mover ações na Justiça americana ligando temas econômicos a decisões do Supremo Tribunal Federal. A ofensiva, anunciada nesta semana, combina duas frentes: por um lado, o governo Trump iniciou um inquérito formal sobre alegadas práticas comerciais desleais por parte do Brasil; por outro, a empresa de mídia associada a Trump processou um ministro do STF nos Estados Unidos, alegando violações à liberdade de expressão americana.
No âmbito comercial, a representação está sendo conduzida pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) e foca em queixas sobre tarifas preferenciais brasileiras, regras para plataformas digitais, propriedade intelectual e políticas anticorrupção. Segundo o governo americano, a investigação buscará determinar se as medidas brasileiras são discriminatórias ou impõem restrições injustificadas ao comércio dos EUA, com impacto direto sobre exportações agrícolas, digitais e industriais. O anúncio ocorre em meio à polêmica da tarifa de 50% imposta unilateralmente pelo governo Trump sobre produtos brasileiros, justificada publicamente como retaliação à condução de processos judiciais no Brasil que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump, e a regulação das plataformas de tecnologia norte-americanas.
No campo judicial, a Trump Media & Technology Group, holding responsável pela rede Truth Social, entrou com uma ação em um tribunal federal da Flórida contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, alegando que medidas do magistrado, como o bloqueio de contas de comunicadores conservadores com base nos EUA, violam a Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão. O processo também tem a participação da plataforma de vídeos Rumble e denuncia, ainda, a “extraterritorialidade” de decisões judiciais brasileiras que afetam diretamente empresas e cidadãos americanos.
Nessa conjuntura, a reação do governo brasileiro tem sido de firmeza conciliadora. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros destacaram que o Brasil é uma nação soberana, com instituições independentes, e não aceitará pressões externas sobre processos judiciais ou sua regulação digital. A Suprema Corte brasileira, representada pelo ministro Luís Roberto Barroso, também respondeu às críticas de Trump, afirmando que não há perseguição política no Brasil e que todas as decisões judiciais respeitam o devido processo legal e os princípios constitucionais brasileiros.
O episódio marca uma das maiores escaladas de tensão entre Brasil e Estados Unidos nos últimos anos, combinando preocupações comerciais reais com uma tentativa de pressionar o governo brasileiro em questões políticas e judiciais sensíveis. Especialistas em comércio internacional alertam para os riscos de uma guerra comercial, enquanto analistas jurídicos ponderam os limites do alcance extraterritorial da Justiça americana sobre decisões soberanas de outros países. A expectativa é de que as próximas semanas sejam decisivas para a evolução do impasse, tanto em fóruns diplomáticos quanto nos tribunais dos dois países.