A crise sanitária está mudando profundamente a relação entre as grandes potências. Depois da pandemia, a liderança dos EUA no mundo poderia estar em risco.
O editorial de 30 de abril do prestigiado jornal francês Le Monde foi dedicado ao cenário mundial que irá ser desenhado depois de debelada a pandemia do novo coronavírus.
O jornal prevê, entre outros, o fim da liderança mundial dos Estados Unidos e alerta para o fato de a Europa necessitar de começar a sua própria reconstrução.
Segundo o Le Monde, a crise pandêmica está mudando profundamente a relação entre as grandes potências, não estando os EUA mais exercendo o papel que haviam atribuído a si mesmos no século XX, o de liderança mundial.
© AFP 2020 / GEORGES GOBET
Bandeiras de União Europeia e dos EUA
A pandemia do coronavírus pôs fim à ordem internacional construída após a Segunda Guerra Mundial sob a égide dos Estados Unidos, assinala o jornal, que reconhece à ascensão da China um papel fundamental na desestabilização deste sistema.
"O fim da Guerra Fria, o desaparecimento da URSS e a ascensão da China desequilibraram gradualmente um mundo baseado na dualidade americano-soviética", afirma o autor do editorial.
Desta forma, o mundo tornou-se desequilibrado, com a "ordem bipolar" dando lugar a "uma desordem multipolar", escreve o Le Monde, que aponta a relutância norte-americana em reconhecer as novas regras do jogo.
Atitude europeia
O Le Monde conclui o editorial sublinhando que o novo coronavírus testou severamente a unidade da Europa, que se mostrou desarmada perante a pandemia e incapaz de organizar políticas de solidariedade com os países mais afetados da União Europeia.
"Mas se ela [a União Europeia] quiser influenciar e não sofrer as consequências de uma ordem mundial mais justa e segura no pós-crise, deve começar organizando a sua própria reconstrução econômica", conclui o editorial.