"Jesus da Sibéria" é preso na Rússia
Líder de seita que afirma ser reencarnação de Cristo é acusado de extorsão e de submeter seguidores a abusos mentais. Movimento fundado durante a dissolução da URSS atraiu milhares de seguidores ao longo de três décadas.
Autoridades da Rússia prenderam nesta terça-feira (22/09) o líder de um culto que afirma ser a reencarnação de Jesus Cristo.
Sergei Torop, um ex-guarda de trânsito de 59 anos, liderou por quase três décadas uma seita chamada A Igreja do Último Testamento, que conta com milhares de seguidores que vivem em comunidades isoladas na Sibéria.
Helicópteros e oficiais armados – incluindo agentes do Serviço Federal de Segurança russo (FSB), a agência de informação sucessora do KGB – se dirigiram para comunidades administradas por Torop na região de Krasnoyarsk (quase 4 mil km a leste de Moscou). Também conhecido por seus seguidores como Vissarion, Torop foi preso juntamente com dois de seus auxiliares.
Autoridades da Rússia disseram que Torop conduziu uma organização religiosa ilegal e que sua seita extorquia dinheiro dos seguidores e os sujeitava a abusos emocionais.
Torop e seus dois auxiliares devem permanecer na prisão até 22 de novembro aguardando julgamento, decidiu um tribunal da cidade siberiana de Novosibirsk.
Os investigadores disseram que os líderes do culto manipularam os seguidores para que eles entregassem dinheiro. Ainda segundo as autoridades, os membros do culto também eram submetidos a "abuso mental".
Comparecendo ao tribunal na terça-feira, Torop negou as acusações. Os advogados dos acusados disseram que vão recorrer da decisão que decretou a prisão preventiva.
Torop, que perdeu seu emprego como oficial de trânsito em 1989, alega ter tido uma "revelação" quando o regime soviético começou a entrar em colapso. Em 1991, ele fundou o movimento agora conhecido como Igreja do Último Testamento e deixou a barba e o cabelo crescer.
A mídia russa relatou que na doutrina original do culto, Torop, ou Vissarion, afirmava que Jesus estava cuidando das pessoas de uma órbita próxima à Terra e que a Virgem Maria estava "comandando a Rússia". Logo ele passou a se declarar como a reencarnação de Jesus.
As comunidades administradas pela seita misturam ritos extraídos do Cristianismo Ortodoxo com budismo, visões apocalípticas e valores ecológicos. A adoção do veganismo é obrigatória entre os membros e o uso de dinheiro é proibido nas comunidades. Os seguidores usam roupas austeras e contam os anos a partir de 1961, quando Vissario nasceu, enquanto o Natal foi substituído por um dia celebração em 14 de janeiro, o aniversário do líder.
Ao longo de três décadas, Vissarion conseguiu atrair milhares de seguidores, que passaram a viver em uma série de comunidades isoladas na região de Krasnoyarsk. Os convertidos incluem pessoas de toda a Rússia, assim como peregrinos do exterior, incluindo pessoas da Alemanha, onde sua doutrina atraiu seguidores de doutrinas esotéricas.
Não está claro o que as autoridades russas pretendem fazer com as comunidades após a prisão do líder. A Igreja Ortodoxa Russa, que mantém laços próximos com o Kremlin, há muito tempo condena a atuação do grupo.