O filho de Chuck Pierce ficou preocupado, assim como muitas outras pessoas que estão vendo supermercados saqueados, temporadas esportivas canceladas e estranhas filas de pessoas a um metro e meio de distância umas das outras. Então, ele perguntou ao pai: "É o fim do mundo?".
Esse é o tipo de pergunta que você pode fazer quando tem um pai que se proclama profeta apostólico e lidera um culto profético. "Não", disse Pierce, que mora em Corinth, Texas. "O Senhor me mostrou o mundo até 2026, então eu sei que este não é o Fim dos Tempos."
A convulsão mundial causada pela rápida disseminação do novo coronavírus levou muitas pessoas a se agarrar às suas Bíblias, e algumas começam a se perguntar: tudo isso pode ser sinal do apocalipse?
Com certeza parece apocalíptico. Mas não se você perguntar aos escritores e pastores cristãos que passaram anos concentrando sua mensagem no Apocalipse - o livro final do Novo Testamento. Esse escrito apresenta uma visão poética e sombria do Fim dos Tempos, na qual os ensinamentos cristãos dizem que Jesus retornará à Terra, os crentes serão arrebatados para o céu e os que forem deixados para trás sofrerão sete terríveis anos de calamidades. Muitos desses profetas focados no Apocalipse não veem o coronavírus como um anúncio da Segunda Vinda de Cristo e do fim da vida na Terra como a conhecemos.
"Se uma pessoa se manteve completamente ignorante a respeito do que a Bíblia diz sobre o Fim dos Tempos, talvez ela esteja pensando agora: é isso, acabou", disse Jeff Kinley, escritor de livros sobre as profecias bíblicas que vive em Harrison, Arkansas.
Kinley disse que entende por que os americanos estão achando apocalíptico esse período de doenças que se espalham rapidamente, de isolamento de entes queridos e de quebra das bolsas de valores. Os americanos são propensos a acreditar que o fim do mundo pode chegar a qualquer dia. Em 2010, 41% disseram ao Pew Research Center que esperavam que Jesus voltasse até 2050.
Kinley citou Apocalipse 6:8, que prevê mortes em todo o mundo "por espada, fome e peste", e as palavras de Jesus sobre os acontecimentos do fim dos tempos em Lucas 21:11: "Haverá grandes terremotos, fomes e pestilências em vários lugares, acontecimentos terríveis e grandes sinais provenientes dos céus".
"Acho que Ele está se referindo a um tempo futuro", disse Kinley. "Não acho que esteja acontecendo agora."
A Bíblia é muito específica sobre o que acontecerá antes do Fim dos Tempos, diz Kinley, e esses acontecimentos ainda não se realizaram. Para começar, o antigo templo de Jerusalém precisa ser reconstruído.
Gary Ray, escritor do site de profecias Unsealed, concordou: ele e seus colegas escritores evangélicos sobre o Fim dos Tempos se concentram no que está acontecendo em locais sagrados em Israel, não na doença. "O foco principal que temos em mente é Israel. Este é o relógio profético de Deus. À medida que as coisas progredirem nesse país, chegaremos mais perto do arrebatamento da igreja e, depois, da tribulação", afirmou.
Ray, que mora perto de Dallas, observou que houve muitas pandemias na história do mundo e nenhuma delas foi sinal de um apocalipse iminente. Mas este pode ser diferente, reconheceu, por causa de um evento astrológico de 2017 que Ray interpretou como o cumprimento de uma profecia do Apocalipse. "Jesus disse que haveria pestilências e grandes sinais provenientes dos céus. E, com certeza, ambas as coisas estão acontecendo juntas."
Na opinião de Ray, esses presságios devem fazer com que os não cristãos corram para a Bíblia, para que possam se converter enquanto ainda há tempo, antes que os cristãos sejam arrebatados e todo mundo tenha de suportar os sete anos de misérias. "Deus é muito benevolente", garantiu. "Ele quer salvar o maior número de pessoas possível. Está dando sinais sucessivos, e são sinais muito claros."
Michael Brown, apresentador do programa de rádio cristão A Linha de Fogo, em Charlotte, Carolina do Norte, também disse que o coronavírus não é um sinal do Fim dos Tempos, mas uma boa oportunidade para refletir sobre o que ele acredita que virá. "Vejo a pandemia como um teste para entendermos como reagimos à calamidade e às dificuldades", disse. "Se estamos abalados agora, como vamos reagir quando a coisa ficar feia de verdade?"
Qual é a razão para todas essas avaliações relativamente tranquilas de pessoas que poderiam estar profetizando o juízo final? Uma resposta pode estar na atitude do presidente Donald Trump em relação ao vírus: o presidente, que é muito popular entre os cristãos evangélicos, passou semanas minimizando a gravidade da ameaça. Mas adotou um tom notavelmente mais preocupado nesta semana. James Beverley, professor do Tyndale Seminary, em Toronto, disse que, durante as pesquisas para seu próximo livro sobre o presidente e a previsão cristã, descobriu que profetas carismáticos e pentecostais, que geralmente pensam que o Fim dos Tempos está próximo, têm menos probabilidade de prever desgraças no período do governo Trump.