Especialistas apontam que o país vive a primeira onda de encerramento de fábricas, em meio à pandemia de COVID-19. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas(FGV/IBRE) estima uma queda de 11,5% do PIB da indústria de transformação este ano, e recuo de 21% somente no segundo trimestre, o maior em pelo menos 40 anos.
A economista e pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/IBRE), Luana Miranda, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que o fechamento de fábricas é motivado pela pandemia, mas "em alguns casos são empresas que já enfrentavam dificuldades antes da crise, e esse encerramento de fábricas já era esperado diante da forte queda de demanda" e da "mudança do padrão de consumo devido às características especiais dessa crise da pandemia".
"As famílias têm optado por consumir bens duráveis em detrimento dos bens de consumo duráveis, como por exemplo automóveis, vestuário, calçados, móveis eletrodomésticos. Então são essas fábricas que sofrem mais. Devido ao nível de incerteza muito alto, que paira sobre a economia nesse momento, as famílias optam por cortar recursos, direcionando o consumo para os itens de primeira necessidade", observou.
"Além disso, a nossa indústria de transformação é muito dependente da demanda internacional, especialmente da Argentina, que é um parceiro comercial que enfrenta uma situação econômica muito crítica", acrescentou.
Ao ser questionada sobre as iniciativas do governo para enfrentar essa realidade, a especialista afirmou que "há iniciativas por parte do governo pra auxiliar especialmente as micro e pequenas empresas, que são aquelas com maior dificuldade de obter crédito nos bancos".
"Um exemplo é o programa emergencial de suporte a empregos, que é voltado pros pagamentos de folha de salário dos funcionários, no casos de pequenas e médias empresas, mas tem algumas contrapartidas de não demissão por parte das empresas. Outra iniciativa é o Pronamp, que é o programa de apoio às micro e pequenas empresas, cujos recursos são destinados nesse momento ao financiamento de investimentos e de capital de giro", explicou.
No entanto, de acordo com Luana Miranda, existem muitas dificuldades do crédito chegar às empresas menores, e "são justamente essas que concentram boa parte dos empregos".
"Então é muito importante avançar nesse quesito, porque o fechamento de empresas reduz fortemente a capacidade do país de produzir. E isso vai ser fundamental no processo de recuperação da economia. Uma forma de reduzir o risco de empréstimos é oferecer garantias por parte do governo, mas esse mecanismo no caso do Brasil é limitado devido à nossa situação fiscal muito delicada", completou.